sábado, 5 de outubro de 2013

LIVROS APÓCRIFOS.
Significado.  Aquilo que está escondido, oculto, secreto.
 O nome apócrifo aplicava-se a principio a livros místicos de sentido esotérico que só se deveriam colocar nas mãos de uns poucos iniciados, capazes por isso mesmo de os entenderem, pois ao povo em geral eram inteiramente ininteligíveis. Nesse bom sentido foi que Clemente de Alexandria referiu-se aos livros apócrifos de Zoroastro, a saber, livros dos  ensinamentos mais profundos, ensinamentos ocultos, conhecidos como doutrinas “esotéricas” da religião de Zoroastro.
Veio depois a significar livros de autenticidade incerta, desconhecida ou duvidosa. Mais tarde significava literatura espúria, falsa ou fictícia. Finalmente aplicava-se aos livros heréticos.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            
Atualmente dá-se o nome de livros apócrifos em sentido geral, aos livros religiosos dos Judeus produzidos na maioria dos casos no período que vai do ano 200 a.C. ao ano 100 a.C. ,  e que nunca foram incluídos no Cânon Hebraico. Alguns desses foram escritos mesmo em época posterior a esse período restrito e até já na era cristã. Nesse sentido, portanto, o termo apócrifo deve incluir todos os livros chamados pseudoepígrafos, pois são  da mesma natureza.
Na verdade do ponto de vista dos Judeus, todos os livros, quer tratem de história dos judeus, encerrem lendas sagradas ou contenham elementos apocalípticos, devem ser tratados como apócrifos.
Assim que se poderia dizer, que o termo apócrifo,  se deve aplicar á literatura de um período em que cessara  o espírito profético.
Quando a bíblia foi traduzida para o latim no século IId.c., o AT não foi traduzido do AT hebraico mas da versão em grego(septuaginta). Assim, os livros apócrifos foram incluídos na versão latina antiga da  bíblia.
A  ORIGEM DA QUESTÃO DOS APÓCRIFOS.
 Verifica-se  que o problema dos livros apócrifos  nasceu em Alexandria, Na  época em que se fez a tradução Grega do Antigo Testamento, e depois foram traduzidos também livros judaicos extra canônicos e reunidos a mesma coleção de livros da versão grega do Antigo Testamento canônico. Desde os dias de Jeremias os judeus começaram a afluir para o Egito e logo após a queda de Jerusalém outros refugiados engrossaram o núcleo da colônia que mais tarde se desenvolveu em Alexandria, que veio a tornar-se um dos três grandes centros  de judaísmo no mundo. A influência grega  em Alexandria era enorme e a mentalidade helenista dos judeus  dessa colônia  os tornou muito liberais e tolerantes em comparação aos judeus palestinos que cultivavam o espirito  conservador nacionalista e religioso em oposição ao espirito helenista. O gosto literário  de Ptolomeu Filadelfo e desses judeus  de Alexandria, o esquecimento gradual da língua hebraica por esses judeus e pelos da dispersão entre os gentios os faziam sentir o desejo de uma tradução do Antigo Testamento para o grego, o que só se explica no  ambiente literal e filosófico de Alexandria. Para os judeus   palestinos a simples tradução do Antigo Testamento para um língua de gentios consistia num  sacrilégio  e muito mais ainda a introdução de livros Extra canônicos no mesmo volume de livros do Cânon. Assim foi que se fez a tradução grega do Antigo Testamento, que recebeu o nome de septuaginta. Nessa versão  foram incluídos  os livros judaicos  apócrifos devido a falta de escrúpulos dos judeus helenistas de Alexandria.  Os apócrifos foram reconhecidos pela igreja Romana em 1546 no concilio de Trento em reação a reforma de Martinho Lutero.                      
                                               A IGREJA E OS APÓCRIFOS.   
Em relação aos apócrifos  a igreja tratou o assunto de acordo com a  época e o local, vejamos; I. Os padres gregos, tais como Orígenes e Clemente, que faziam uso da versão grega da LXX(Septuaginta), frequentemente citavam  este ou aquele apócrifo como “Escrituras”, “Inspirados”, “Escrituras Divinas”, ou “assim diz o Espirito Santo”, etc. Mais tarde os padres gregos abandonaram esse conceito do Cânon e passaram a fazer importantes discriminações nesse sentido, como por exemplo, Atanásio em 536 A.D., Mas por outro lado na igreja latina, Agostinho, que lia uma bíblia Latina os aceitou e exerceu influência em favor da aceitação desses livros nos concílios norte africanos de Hipona e Cartago. A razão provável da atitude de Agostinho quanto a esses livros, deve- se ao fato de ele ser acostumado com o uso de uma velha bíblia latina, que continha os apócrifos, e que fora traduzida da LXX(Septuaginta)  e não do hebraico.  
II. Os mestres e as autoridades relacionadas com a Palestina e familiarizados com o Cânon Hebraico declaravam apócrifos todos os livros ausentes desse Cânon.
III.Alguns entendiam que eles não podiam ser elevados á mesma categoria dos livros do Cânon hebraico, mas seriam de proveito moral, e instrutivo para leitura nos cultos públicos.  Eram conhecidos como “Eclesiásticos”.
Os três posicionamentos citados acima permaneceram até aos dias da reforma.
No dia 08. De Abril de 1546 o Concilio de Trento resolveu considerar Canônicos os apócrifos e lançou anátema(Maldição) contra os que não aceitassem os livros que os Concílios de Hipona e Cartago, sob influência de Agostinho, resolveram considerar canônicos.  Declaração da Igreja, “  Se alguém não receber como sagrados e canônicos os  ditos livros íntegros com todas as suas partes, como têm sido usados para serem  lidos na Igreja Católica, e como se contêm na velha Vulgata Latina........Seja anátema”
Desde então para a Igreja de Roma, todos os apócrifos da Vulgata devem ser considerados canônicos, exceção feita aos livros 3ºe 4º Esdras, e a oração de Manasses.
De outro lado todas as igrejas da Reforma já tinham se definido pelo Cânon Hebraico do Antigo Testamento.
Um exame superficial dos apócrifos mostra imediatamente que eles não poderiam ser equiparados aos Canônicos. Um livro  de moral deficiente, que ensine doutrinas erradas e contrárias ás que se encontram nos Canônicos, e que ensinem falsidades, não pode pertencer ao Cânon, a regra de fé e prática dada por Deus ao homem.
CONTEÚDO.
Veremos os doze livros que compõem os Apócrifos e suas principais deficiências.
I. 1º Esdras, que é chamado de 2ºEsdras na revisão luciânica da septuaginta e de 3º Esdras na Vulgata Latina.
 O debate dos três jovens narrado no livro, é adaptação de um conto persa, e pode-se discernir evidências sobre isso nos seus pormenores. É adaptado para servir de meio mediante o qual Zorobabel, guarda costas de Dario, ao vencer um  debate a cerca do maior poder(Vinho, Mulheres, ou Verdade?),  obtém a oportunidade  de relembrar ao monarca persa sua obrigação de permitir a reconstrução do templo. Comparação detalhada entre o mesmo Esdras da septuaginta demonstra que as duas obras  são traduções independentes do texto massorético(Texto original). 1º Esdras é provavelmente o mais antigo dos dois.
Deficiências do livro.  Em relação ao livro de Esdras Canônico, apresenta contrastes não apenas quanto ao texto, mas igualmente na ordem cronológica dos acontecimentos e dos reis persas, trata-se de uma tradução livre e idiomática.
II.  2º Esdras, que é o 4º Esdras da Vulgata. Também chamado de apocalipse de Esdras.   Essa versão, conforme atualmente encontra-se no Latim Antigo, é uma expansão feita por escritores cristãos sobre a obra judaica apocalíptica original.
O corpo original do livro consiste em sete  visões;
1ª. O vidente exige uma explicação para os sofrimentos de Sião, cujo pecado não é maior que do seu opressor. O anjo Uriel responde que isso não pode ser compreendido, mas que a era se aproximava em que raiaria a salvação.
 2ª. Israel, escolhida  de Deus havia sido entregue a outras nações; isso, igualmente, é declarado como algo incompreensível para os homens. A era vindoura seguir-se-ia á presente sem intervenção de qualquer intervalo, precedida pelos sinais do fim e por um período de conversão e salvação. Isso deveria consolar o vidente.
 C.  Pergunta por que os Judeus não possuem a terra; a resposta dada é que eles a herdarão na era vindoura. Várias outras questões acerca da vida após o túmulo e da era vindoura são abordadas, incluindo o pequeno número de eleitos.
 D.  Fala sobre uma mulher que se lamentava relatando as suas desgraças, a qual a seguir é transformada numa gloriosa cidade. Isso simboliza Jerusalém.
 E.  Conta sobre uma águia com doze asas e três cabeças, o símbolo de Roma, o qual é explicitamente declarado pelo anjo interprete como o quarto reino de Daniel 7. O Messias de suplantá-la.  Essa visão deve ser datada do Governo de Domiciano.
  F. Fala sobre um homem que se levanta do mar e que aniquila uma multidão antagônica. Isso é uma adaptação á visão de Daniel 7 sobre o filho do homem.
 G. Visão final (14 )trata de um tópico distinto da restauração dos livros sagrados dos Hebreus, feito por Esdras, por meio de uma visão e com a ajuda de escribas sobrenaturalmente auxiliados.
III.   Tobias. É uma curta história piedosa sobre um hebreu justo pertencente aos cativos do norte. Tinha um filho do mesmo nome. Sofreu perseguições e privações por haver socorrido seus colegas israelitas sob a tirania de Esar-Hadom.
Deficiências do Livro.
* Há demasiadas visitas de anjos e se diz que um deles viajou trezentas milhas em sua companhia, a pé. O anjo Rafael induz Tobias a mentir. Ele se apresenta como um tal Azarias, dos conhecidos de Tobias, mas depois se dá a conhecer como o  anjo Rafael, ensina uma história de sete
  anjos caírem prostrados perante o Santo, que parece influência de uma superstição
Persa e, o que é pior, que estes sete anjos apresentam a Deus as orações dos santos, sem base alguma nas Escrituras e em conflito com o oficio mediatório de Jesus.
*Um espirito mau se apaixona de tal modo por uma mulher que, enciumado mata os que com ela se casam, mas o coração e o fígado de peixe fumegantes afastam  o demônio, tanto do homem quanto da mulher .
* Atribui às esmolas a virtude de livrar da morte e purificar de todo o pecado, enfim prega a salvação pelas obras.
IV. Judite. Relata a historia de uma jovem e corajosa judia, bem como a queda do hospede de Nebuchadrezar por sua astucia.
Deficiências do Livro.
*Emprega palavras e condutas falsas.
* Ensina que os fins justificam os meios, sejam quais forem, e ela ainda ora á Deus para que abençoe esses meios.
* A falsa historia que ela contou a holofernes e os seus encantos pessoais.
V. Adições a Daniel.  Ao capitulo terceiro de Daniel e adicionada a oração de Azarias, proferida na fornalha, bem como o cântico do três hebreus, entoado para o louvor de Deus.
Deficiências do Livro.
*  A oração dos três moços na fornalha ardente, uma meditação piedosa, mas sem qualquer adaptação para o caso.
* A historia de Suzana, improvável  e inverossímil.
* A lenda de Bel e o Dragão, absurda e ridícula.
VI. Adições a Ester.   O livro canônico sempre causou uma certa dificuldade por não aparecer nele o nome de Deus e mais ainda pelo teor geral da historia    nele contida.  Os acréscimo contem aquilo que alguém entendeu  que faltava ao livro canônico   e que devia e podia ter sido dito pelos personagens do livro de Ester. O livro canônico foi escrito só em hebraico e encontra-se no cânon judaico. Os acréscimos encontram-se só na versão Grega e na Vetus Latina, pelo que se pensa que teriam sido escritos pelo tradutor de Ester para o grego.
VII. Oração de Manasses .  Afirma apresentar a oração a respeito da qual há referencia  e m 2ºCronicas33.11-19. Na opinião da maioria dos eruditos é uma composição judaica e provavelmente foi escrita originalmente no hebraico.
VIII. Epistola de Jeremias. É um típico ataque judaico helenista contra a idolatria, disfarçado como uma carta de Jeremias aos exilados na Babilônia , semelhante  àquela mencionada em Jr. 29. Os ídolos são ridicularizados; os males e loucuras ligados aos mesmos  são expostos e os judeus cativos são instruídos a nem adora-los nem teme-los. É escrita em bom grego, mas pode ter tido um original Aramaico.
IX. Livros de Baruque.  Alegadamente é obra do amigo amanuense de Jeremias. A obra é breve, mas na opinião dos eruditos é uma obra composta, atribuída a dois, três ou quatro autores. Há nesse livro graves erros históricos.
Deficiências do livro.
* Refere-se ao Templo como de pé, mas o templo fora queimado por Nabucodonozor ao tomar a cidade de Jerusalém.
* Fala-se que  Deus ouve as orações dos mortos de Israel.
* Baruque se diz que esteve em Babilônia, quando ele foi com Jeremias para o Egito depois da queda de Jerusalém.
X. Eclesiástico. Nome dado em seu titulo grego á sabedoria de Jesus Ben-
Siraque nascido na Palestina, vivia em Jerusalém, e porções de sua obra sobrevivem no hebraico original, em manuscritos do Cairo Geniza. Pertence a classe da literatura de    Sabedoria, mas difere dele grandemente porque seu cunho é Palestino e não Alexandrino, não exibindo o menor traço de cultura grega que caracteriza o “Sabedoria de Salomão”. Revela do principio ao fim o espirito hebreu e segue os moldes hebreus.     Sem dúvidas é o mais antigo dos apócrifos, e derrama luz abundante sobre o período  a que se atribui sua composição.
Deficiências do Livro.
*Há muitas passagens que estão em desacordo com o espirito e os ensinos da Palavra Inspirada.
* Ensina-se a justificação pelas obras.
* As esmolas expiam pecados.
* Honrar pai e mãe expia pecado.
* Abandonar a injustiça expia pecado.
* Permite-se o trato cruel dos escravos e ódio aos Samaritanos.
* Há preocupação de fazer mais o que parece bem aos homens do que aquilo que é aceitável aos olhos de Deus.
* Encoraja-se o gozo dos prazeres em geral porque a vida é  breve.
XI. Sabedoria de Salomão.  É talvez o ponto alto da literatura da Sabedoria Judaica. Suas raízes encontram-se na corrente da literatura da Sabedoria, que pode ser encontrada no Antigo Testamento e nos apócrifos, mas aqui se acha sob influencia do pensamento grego e o livro atinge uma melhor formalidade e precisão do que noutros exemplos desse tipo literário.
Deficiências do Livro.
* Não apresenta a sabedoria de Salomão, mas a filosofia Alexandrina.
*O livro pretende ter sido escrito por Salomão, mas refere-se ao povo de Deus como sujeitos aos seus inimigos, o que nunca aconteceu na época de Salomão.
* Parece ensinar a doutrina da emanação, a preexistência da alma, cujo destino mortal é determinado pelo seu caráter  antes de vir a este mundo.
* O corpo material se considera como um  peso e prisão da alma, doutrina que não tem  base nas Escrituras.
*O livro exagera o milagre, por amor do maravilhoso apenas, como quando diz que o maná era agradável aos diferentes gostos, adaptando-se ao paladar que cada um desejava.
* Apresenta uma origem muito superficial da idolatria.
XII. 1º E 2º Macabeus.  O 1º Livro cobre os acontecimentos entre 175 e 134 A.C., isto  é, a luta contra Antíloco Epifânio.   O livro termina com um panegirico  a João, e evidentemente foi o mesmo escrito após a sua morte, verificada em 103 A.C. Originalmente escrito em Hebraico, foi traduzido no estilo literário de partes da septuaginta, o alvo da obra é glorificar a família dos Macabeus, vistos como campeões do Judaismo.  O 2º Livro é obra de origem diferente  seu tema cobre muito da mesma historia de seu homônimo , mas não prossegue a historia além das campanhas e derrota de Nicanor. Seu autor é desconhecido.            
Deficiências Dos Livros. 
*  1º  Livro.  Contém diversos erros Geográficos e históricos.
*  2º Livro. Abunda em lendas e fabulas, como a da preservação do fogo sagrado.
*Ocultamento do Tabernáculo com  a arca e o altar do incenso por Jeremias no monte Nebo.
* Justifica o suicídio.
*  Autoriza a oração pelos mortos.
* O autor não se julga Inspirado.                                    
O Concilio de Trento constituído de número reduzido de prelados, representando um território limitado da igreja, longe de poder ser considerado ecumênico impôs  a igreja toda a aceitação dos apócrifos como canônicos , de inspiração e autoridade iguais aos do cânon hebraico, de encontro a toda a evidencia histórica anterior. Estribando-se não na competência, mas na sua autoridade, lançou o anátema contra quem os rejeitasse. Desde então a discussão cessou na igreja Latina.


Bíbiografia.
*NovoDicionário da Bíblia vol.I. Junta Editorial Cristã.
*O canon do Antigo Testamento. Guilherme Kerr- Imprensa Metodista- São Paulo.1952.

O material apresentado acima foi compilado das obras citadas.

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