OS EVANGELHOS.
Os evangelhos são a própria historia da vida de Cristo na terra, isto é, dos prodígios que operou das doutrinas que ensinou, e dos sofrimentos por que passou. Por consequência, falando em sentido restrito, não pode haver mais que um só evangelho. São quatro livros, narrando cada um deles o mesmo evangelho. E foi isto um passo fácil para a resolução de dar aos livros o nome de “Evangelhos”. Sendo o primeiro a aplicar a palavra, *Justino Mártir (c.1400 A.D.), que fala das memorias dos apóstolos, chamado evangelhos.
ETMOLOGIA.
A palavra evangelho deriva-se da grega ευαγγελιον [euaggelion, evangelho], boas novas. Aparece 77 vezes no Novo Testamento. Nos evangelhos o termo ευαγγελιον [euaggelion] ocorre nos escritos de Mateus e Marcos. O correspondente ευαγγελιζω [euaggelizô, evangelizar], aparece 55 vezes no Novo Testamento.
(1) Mateus 4: 23
Percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo. - το ευαγγελιον [to euaggelion]
(2) Mateus 9: 35
E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. - το ευαγγελιον[to euaggelion]
(3) Mateus 24: 14
E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim. - το ευαγγελιον [to euaggelion] Nom. sing. ("este evangelho" - τουτο το ευαγγελιον [touto to euaggelion]).
*Justino (em latim: Flavius Iustinus ou Iustinus Martir), também conhecido como Justino Mártir ou Justino de Nablus (100 - 165) foi um teólogo do século II.
(4) Marcos 1: 14. Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, - το ευαγγελιον [to euaggelion].
(5) Marcos 1: 15. E dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho. - τω ευαγγελιω [tô euaggeliô] Dat. sing. ("no evangelho" - εν τω ευαγγελιω [en tô euaggeliô]).
(6) Marcos 8: 35. Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á. - του ευαγγελιου [tou euaggeliou].
A palavra Evangelho empregada isoladamente, ou com adições, como o evangelho de Deus, de Cristo, do Reino, da graça de Deus, do seu Filho, da Gloria de Cristo, da nossa salvação, da paz, da gloria do bendito Deus, significa sempre as boas novas de que Deus é o autor, as boas novas da salvação e da paz que Cristo veio anunciar, e de que ELE, pela sua vida, morte e ressurreição é a essência.
PREPARAÇÃO PARA O EVANGELHO.
Os três anos mais abundantes em acontecimentos que o mundo jamais viu, foram aqueles em que nosso Senhor Jesus Cristo exerceu o que é comumente chamado seu ministério público. O Velho Testamento aponta para esse período como a grande esperança do homem; atentamos-nos para o mesmo como o tempo em que a luz resplandeceu nas trevas e o Evangelho pelo qual o homem pôde tornar-se um filho de Deus, teve seu inicio. O Velho Testamento apontava para esse período, mas antes que ele realmente chegasse, houve duas preparações especiais;
O mundo foi preparado para a vinda do Evangelho.
O Messias foi preparado para o estabelecimento do Evangelho.
PREPARAÇÃO PARA A VINDA DO MESSIAS.
Nenhum estudo do Novo Testamento pode ser completo e satisfatório sem tomar em consideração os acontecimentos dos quatro séculos que se passaram desde o fim do Velho Testamento. Nesse período verificaram-se mudanças notáveis: Na politica; na religião e na língua.
- Na politica. O domínio da pérsia cedeu lugar ao domínio de Roma. A história politica do período divide-se em quatro Fases.
I - O Período Persa(536 - 331 a.C.) No fim do Antigo Testamento uma parte dos judeus havia regressado a seu próprio pais. A Pérsia, o grande poder mundial de então não interveio na vida desses judeus, mas deixou-os em paz na terra.
II - O Período Grego(331 – 167 a.C.) no ano 331 a.c., o domínio passou para a Grécia. Nesse ano, Alexandre, o grande, o imperador Grego, realizou com êxito uma campanha contra os persas, e a sede do domínio mundial passou para sempre da Ásia. O reinado de Alexandre foi breve, pois, ele morreu em 321 a.C., todavia suas campanhas realizaram duas coisas que influenciaram o mundo grandemente na obra posterior do Cristianismo , as quais são;
- A união do mundo conhecido debaixo de uma só cabeça.
- O estabelecimento de uma língua mundial. (Grego).
III - O Período Judaico. (167 – 63 a.C.). Com a morte de Matatias a chefia do seu grupo passou para seu filho, Judas, chamado Macabeu. A este se deve o nome do período. Era ele um sábio e hábil general, e empreendeu uma guerra vitoriosa contra os sírios. Depois dele a direção passou sucessivamente para os seus irmãos, Jonatas e Simão, foi reconquistada para os Judeus a sua independência no ano 142 a.C.
O Período Romano. (63 a.C). Pompeu, o governador Romano que manteve a posse da Palestina, a principio mostrou favor a um dos irmãos, mas pouco depois entregou a direção politica da terra a Antipater, um Idumeu ou Edomita. Pela morte desde a após rudes pelejas foi dado o governo a seu filho, Herodes, o grande, o mesmo que ordenou a execrável chacina dos infantes de Belém por ocasião da visita dos Magos do oriente, ao infante Jesus. Após a morte de Herodes, o grande, a terra foi dividida entre três dos seus filhos; Arquelau ficou com a Judeia, Antipas com a Galileia e a Pereia; e a Felipe coube a região nordeste do mar da Galileia. Alguns anos mais tarde, Arquelau foi deposto e um governa dor romano foi colocado sobre a Judeia. Durante o ministério público de Jesus ocupava esse lugar, Poncio Pilatos.
- Na religião. O Novo Testamento revela a existência de partidos religiosos e instituições que não se conheciam no Velho Testamento.
A. Os Samaritanos. Começou a aparecer nos últimos dias do Velho Testamento. Seus componentes descendiam de uma raça mista que surgiu como consequência do consorcio de estrangeiros trazidos para a Palestina por Sargon com Judeus pobres que haviam permanecido após a queda do Reino do Norte.
B. Os Saduceus. Os saduceus geralmente eram ricos e ocupavam cargos de prestígio em Israel, como o de sumo sacerdote. Era também a maioria no Sinédrio (conselho que julgava assuntos da lei judaica e da justiça criminal, na Judéia e em outras províncias). Tinham uma grande preocupação em acatar as decisões de Roma (que dominava Israel no período em questão), dando, muitas vezes, mais importância à política do que à religião. Vale destacar que os saduceus não eram bem vistos pelo povo, já que faziam parte da elite e apoiavam os romanos. Esse grupo deixou de existir após a destruição do Templo de Jerusalém, em 70 d.C., já que tinha uma forte tendência política.
C. Os Fariseus. Os fariseus geralmente eram indivíduos de uma classe social intermediária. Embora fosse minoria no Sinédrio, eram indispensáveis, pois tinham o apoio do povo judeu. Essa popularidade rendia-lhes muitas conquistas no conselho.
- Na lingua. A língua do tempo do Novo Testamento era o Grego, a razão disso foi a obra de Alexandre, o grande. Suas conquistas das nações do oriente e a marcha dos seus exercitos sobre as terras orientais, trouxeram todas essas terras ao contato com a língua grega que se tornou a linguagem internacional do seu tempo. Foi durante esse período que a Filosofia e o pensamento gregos atingiram a sua época áurea
OS QUATRO EVANGELHOS.
A partir do fim do século segundo quando Irineu sustentava a necessidade de quatro evangelhos, vindos das quatro zonas da terra e trazidos pelos quatro ventos do céu, os diferentes aspectos da vida de Cristo, e a sua unidade na diversidade, têm sido muitas vezes e de vários modos traçados. Basta uma simples vista para se conhecer que os quatro evangelhos separam-se em três e um. O quarto temos de considera-lo á parte. O seu começo não é uma narrativa , mas pensamento de profundíssima teologia. O objetivo do escritor não é descrever a historia da vida terrena de Jesus, mas apresenta-lo como “ o Cristo, o Filho de Deus”. Ele vai expondo a relação em que está o Filho para O Pai e ao mesmo tempo a missão daquele para com a humanidade.
O Evangelho segundo Marcos→ ( KATA MAPKON)→ O livro é anônimo, visto como por consenso comum os títulos dos escritos do Novo Testamento são considerados como acréscimos ulteriores, não tendo, além disso, o autor em parte alguma dado a conhecer a sua personalidade. Mas uma tradição continua atribui a Marcos a descrição das “palavras e ações de Cristo”, identificando este trabalho com o nosso segundo evangelho, e o autor com aquele João Marcos a quem se referem os Atos dos Apóstolos e as Epistolas. Marcos aparece nos Atos dos apóstolos como um judeu de Jerusalém, chamado João, que tinha adotado como sobre nome, o nome romano de Marcos. Na primeira menção que ele se faz vem o seu nome em relação com o de Pedro, pois foi para “ casa de Maria, mãe de João que tinha por sobre nome Marcos”. Uma antiga e fidedigna tradição afirma que este evangelho foi escrito em Roma, e para os cristãos romanos. Cf. At.12.12; 13.13;Cl.4.10; IITm.4.11; IPe.5.13.
Acredita-se que Marcos escreve u este Evangelho entre o final dos anos 60 e 70, talvez pouco antes da destruição de Jerusalém pelo general romano Tito, no ano 70.
O Evangelho segundo Mateus→( KATA MATOAION)→ O primeiro evangelho, do mesmo modo que o segundo, é anônimo, mas por uma uniforme tradição e atribuído ao apostolo Mateus. O único incidente que se relata, é a sua chamada e sua pronta obediência. Era publicano coletor de impostos no importante centro comercial de Cafarnaum. Este apostolo é também conhecido como Levi , vindo a adotar logo após o nome de Mateus. C f. M c.2.14; Lc. 5.27. A parte mais considerável do livro trata do ministério de jesus na Galileia . Este evangelho é especialmente dirigido aos Judeus. O alvo que visa o escritor é em primeiro lugar, pela simples narração do que Jesus fez e ensinou. Livrar a memoria do seu mestre de qualquer censura, destruir os preconceitos dos seus conterrâneos , e apresentar o verdadeiro caráter do Messias, o livro também pode ser apresentado como uma exposição do “Reino de Deus.” Sendo esta uma frase que ocorre trinta e três vezes neste evangelho e nenhuma vez nos outros. As exposições de Mateus visavam refutar as varias seitas Judaicas, e o seu cuidado em reproduzir aquela parte dos discursos de Jesus que melhor pudesse despertar a nação judaica pelo conhecimento de seus pecados, corrigir as suas esperanças relativas a um reino terrestre, e prepara-la para a admissão dos gentios na igreja. Há algumas características judaicas nos escritos de Mateus, as quais são;
► É comum o uso de expressões judaicas como “Reino dos Céus” e “Pai Celestial”, típicas de uma religião que evita, por reverencia, empregar o nome Deus.
► A genealogia de Cristo retrocede até Abraão.
► Há grande ênfase ao cumprimento das profecias registradas nas Escrituras hebraicas.
► Há constante menção a Jesus como filho de Davi.
Conquanto seja posterior ao evangelho de Marcos, pode-se bem sustentar com base em 22Mateus. 4.5; 5.35; 22.7; 23.2-34; 24.2,15; 27.53; Lucas. 21.20. (Observe nas citações de Mateus, suas alusões a Cidade Santa, ao lugar Santo, a Cidade do grande Rei.) parecem significar que o evangelho foi escrito pouco tempo antes do trágico fim da guerra que flagelou os judeus no ano 70.
O Evangelho segundo Lucas→( Kata Aoykan) → O Evangelho de Lucas é um dos textos mais elaborados do Novo Testamento. Lucas não apresenta a Cristo como um homem comum, mas sim, como o Filho de Deus, nascido de uma virgem. Cf. Lc .1.32,33. O livro É produto de cuidadosa pesquisa, o “Medico amado”, que procurou informar-se minunciosamente de tudo desde o principio. Desse modo, é ele quem nos oferece o relato mais completo da vida de Jesus. Cf. Lc.21.
Este Evangelho não somente compartilha de larga aceitação que os outros sinópticos tiveram desde meados do segundo século, mas tem a seu favor um testemunho especial e mais antigo, o de Marcion do Ponto(c.A.D.140). O Novo Testa mento de sua própria seleção, que ele levou para Roma, constava de um Evangelho e de um Apostolicon (dez epistolas de Paulo). Este Evangelho pode em grande parte ser reconstruído com as citações de Tertuliano e Epifânio , adversário de Marcion e denota ter sido uma versão revista e mutilada de Lucas.
Que Lucas foi o último dos Evangelhos sinópticos é nos sugerido, Primeiro. Pelo prologo, onde se diz “Muitos da segunda geração de Cristãos já haviam empreendido uma tarefa semelhante; Segundo. Pelo uso das duas principais fontes do primeiro e segundo Evangelhos, juntamente com materiais novos; Terceiro. Pelos numerosos e leves toques que parecem mostrar “desenvolvimento” no uso da tradição comum. Quarto. Pelas modificações no “discurso escatológico” com suas indicações mais claras sobre o cerco de Jerusalém.
Ps. Lucas não se identifica como autor em seus escritos, porém o testemunho unanime dos cristãos primitivos, principalmente nas obras de Irineu, dão conta de que ele escreveu o Evangelho que leva o seu nome e o livro de Atos dos Apóstolos. A data provável para a escritura deste evangelho situa-se entre os anos 59 e 63 ou em algum momento do período que compreende as décadas de 60 e 70.
O Evangelho segundo João →(Kata IΩannhn) → A mais antiga referencia feita a este Evangelho pelo seu nome encontra-se em Teófilo de Antioquia(c. A .D. 180), que cita 1.1 precedido da declaração: “João diz”. Irineu o atribuiu sem hesitação alguma a João, Discípulo do Senhor e que também se recostava no seu peito, e afirma que ele escreveu em Éfeso, onde permaneceu até o tempo de Trajano(A.D. 98-117). Testemunho semelhante é dado por Tertuliano, por Clemente de Alexandria, e por outros escritores posteriores. No último quarto do segundo século, e depois disso, era o evangelho universalmente e sem hesitação recebido como obra do apostolo João, que o compôs em Éfeso, sendo já de idade avançada, depois da publicação dos outros evangelhos.
Alguns argumentos que nos levam a crer na autoria do Apostolo João:
Judeu. Ele acha-se perfeitamente familiarizado com a s opiniões do povo de Israel (Especialmente a esperança Messiânica), e com as praticas e o uso judaico. Cf. 1.21;4.25;6.14,15;7;12.13,3419.15,21.
Falava Aramaico. O estilo é hebraistico, mostrando as citações do Antigo Testamento, não só mostrando conhecimento do hebraico, mas também da septuaginta.
Natural da Palestina. Ele mostra que lhe era muito familiar a topografia da Palestina, e a de Jerusalém,(Cidade esta que já estava em ruinas quando o evangelho foi escrito).
Testemunha ocular. Tempo, pessoas e lugares são constante mente especificados, ao passo q eu o caráter gráfico da narrativa, mostra ou “ a habilidade dum artista consumado, ou memoria dum observador” (Westcott).
Apostolo. É uma testemunha ocular em intima relação com os pensamentos e ações dos apóstolos e do Divino Mestre.
Em seus escritos João procura apresentar “Cristo como, o Filho de Deus”. Cf. 20.31. Acredita-se que originalmente este evangelho tenha sido endereçado a igreja que estava em Éfeso, no entanto seu proposito é universal.
Tradicionalmente, aceita-se que João tenha escrito o evangelho já próximo do final do século I, no entanto foi apontada uma data anterior, entre a década de 50 e antes do ano 70. João 5.2 declara que: “Em Jerusalém há (tempo presente), próximo á Porta das Ovelhas, um tanque chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres”. O livro, portanto, teria sido escrito antes da destruição de Jerusalém, que se deu no ano 70.
Espero que seja de grande valia esta exposição dos Evangelhos para o estudante da Palavra de Deus. Havia muito mais que se escrever, porém ficaria muito longa e cansativa a leitura.
Prezado irmão não se esqueça de ler as citações da Palavra de Deus, somente desta maneira será profícuo o seu estudo e sua pesquisa.
As datas atribuídas à escritura dos Evangelhos são todas por aproximação. As datas eram contadas tomando-se por base eventos importantes, e isso dentro de cada povo. Não havia, é obvio uma base geral.
Bibliografia.
Bíblia Sagrada. ARC.
Historia, Doutrina e Interpretação da Bíblia. VolII. Joseph Angus – Casa Publicadora Batista. 1953
A Bíblia através dos séculos, A historia e formação do Livro dos Livros. Pr. Antonio Gilberto. C.P.A.D.1992
Apostila Fait (Faculdade Iguaçuana de Teologia)2010.
De Belém a Patmos (Estudos no Novo Testamento). W.E Denham. Casa Publicadora Batista. 1943.
Que a Paz de Cristo, que excede todo o conhecimento, encontre morada em nossos corações, e que sejamos valorosos defensores do Evangelho da paz.